BIDI - 03 de junho de 2012 - Parte 1

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- Intervenção de BIDI -
Sri Nisargadatta Maharaj



Pergunta: Como libertar a espera e a busca do Absoluto?

Foi dito que o Absoluto não pode ser procurado porque, como procurar o que tu já És?
Toda a procura, todo o suposto caminho, praticado ou procurado, toda a procura num passado, em qualquer outra coisa que não seja o que eu sou, aqui e agora, não pode senão afastar-te do Absoluto.
O Absoluto não pode ser conhecido.
Ele faz parte do desconhecido. 
Portanto, é preciso refutares tudo o que é conhecido. 
Passa o teu tempo, não à procura do Absoluto (tu não o podes), mas passa o teu tempo a refutar o que te é conhecido.
Num dado momento (e esse dado momento está muito próximo porque isto que eu te proponho é muito simples), o cérebro, a personalidade, o ego, e mesmo a individualidade, não podem manter-se, para além de um certo tempo, relativamente à refutação.
O sentido do eu aparece três anos antes.
É o momento onde aparece a distância entre o sujeito e o objeto.
É o momento em que a Consciência toma consciência de si mesma e se distancia relativamente a tudo o que pode ser sentido, ressentido, visto, percebido, estabelecendo, de qualquer modo, um limite e uma barreira entre ti e o mundo.
É esta distância e esta barreira que criam a pessoa, que criam o individuo.
Se tu aceitares isso, é suficiente aceitar simplesmente que não há nada a procurar, nada a encontrar, nada a esperar mas, simplesmente, colocar um olhar lúcido sobre tudo o que é efêmero.
Tu Eras, antes de estar nesse corpo.
Tu Eras, antes que o mundo existisse.
E tu Serás, uma vez que o mundo tenha desaparecido.
Mas o que Serás tu?
Isto não é uma projeção no futuro, ainda menos no passado, mas antes o estabelecimento da Consciência para além da Consciência.
A Consciência é experiência; ela se alimenta da experimentação.
Até um certo ponto, tu crês ser aquele ou aquela que experimenta.
Tu te identificas com a cena, tu te identificas com o teatro, tu pensas que há um caminho e tu o percorres porque tu o criaste.
Eu não vos ensinarei nada dizendo que o pensamento é criativo.
Mas de onde vem o pensamento? Será que ele é anterior à existência deste saco de comida?
Tens memória disso?
O que se passa quando meditas?
O que acontece nas experiências místicas?
Mesmo a mais improvável, a mais extraordinária.
Bem, é simples: há sempre qualquer coisa que olha.
E essa qualquer coisa que olha não é afetada pela experiência, nem pela própria Consciência.
O que observa não é uma pessoa, não és tu, no sentido de uma individualidade mas é bem mais vasto e bem mais ilimitado do que tu poderias imaginar, conceber ou pensar.
A partir do instante em que tu observares os teus próprios pensamentos, a forma como eles nascem (é mesmo o princípio da meditação) tu vais poder, num primeiro tempo, sair da linearidade.
Não para escapar ao que quer que seja, ou a quem quer que seja, porque, eu te lembro que, o Absoluto engloba também a Ilusão.
Tudo o que é efêmero é ilusório.
O que é permanente é infinito e indefinido.
Observa o finito.
O Absoluto observa o efêmero.
O efêmero está contido no Absoluto. 
Nada pode estar fora do Absoluto.
O problema é que a Consciência se coloca sempre num relativo, em qualquer coisa de limitado, de fragmentado, onde há o sentido de uma possessão, onde há o sentido de uma atribuição, de um papel, de uma função, de uma adesão ao que quer que seja.
 Quer seja o corpo, quer seja a família, quer seja um objeto ou mesmo, para aqueles que realizam o Si, o sentimento de ser a Terra inteira e as Consciências que aí estão contidas.
Isso não é o Absoluto mas está contido no Absoluto.
Ora, tu és Absoluto.
Nada de limitado pode ser o que tu És.
Há, portanto, em primeiro lugar, numa forma lógica, que estabelecer um «eu sou» porque o Si não se pode construir e criar senão em oposição ou em confrontação com o não Si.
É o mesmo para o eu que se constrói e se elabora desde há três anos, a partir do não eu: é a distância sujeito / objeto.
O absoluto te diz: «tu não és nem o sujeito, nem o objeto. Tu não és mesmo a relação entre o sujeito e o objeto.».
E isso é, de toda a Eternidade, porque a perfeição não é nunca efêmera.
E tu és perfeito.
Só a visão da construção do eu e, para aqueles que estão no caminho espiritual, a construção do Si, não são senão afastamentos da Verdade.
Todas as verdades que tu descobres, todas as verdades que tu estabeleces como válidas, na tua vida, são, num dia ou noutro, varridas.
Tu estás num corpo.
Esse corpo vai desaparecer, é inevitável.
Esta Terra desaparecerá, o Sol desaparecerá, o Universo desaparecerá. 
Os vossos cientistas o dizem.
O que te tornarás tu nesse momento? 
Então, certamente, enquanto tu estiveres no jogo, e jogares o jogo, isso não tem nenhuma importância porque a escala, dita de tempo, escapa totalmente, tanto à tua compreensão como ao teu conceito.
Mesmo o sentido de identidade de uma pessoa, de um individuo, do Si, não é senão um conceito.
O ser humano encarnado tem por hábito definir.
Ele define a partir de uma forma limitada (objeto ou sujeito) mas tudo isso é efêmero. 
O mais difícil (e que é ao mesmo tempo o mais simples), é aceitar, de uma vez por todas, que não há nada a procurar, nada a encontrar e que o caminho não existe, senão quando consideras que existe um caminho, senão quando consideras que há uma montanha a subir e descer, é a mesma coisa.
O que é que sobe a montanha ou o que é que a desce?
A noção de esforço é conhecida neste mundo.
Tudo é um esforço.
É preciso ganhar a vida.
O que eu te proponho não é não mais ganhar, mas compreender, a fim de integrar, de ultrapassar, de transcender e, de qualquer forma, de romper as amarras com o finito.
 Não te desviando (o que seria, mais uma vez, um erro), mas antes posicionando-te além do que é conhecido.
Para isso, não há outra solução senão aceitar o próprio princípio do que deve ser refutado.
Sair do confinamento é ultrapassar todos os limites, não numa espécie de desordem, mas antes ultrapassar a ordem e a desordem.
É estabelecer-se para além da ordem e da desordem, como para além do bem e do mal.
Para além da dualidade.
Para além da Unidade.
É não desempenhar mais nenhum papel, mas aceitar viver o que te propõe este mundo.
Não é uma questão de se afastar desse corpo já que tu estás dentro dele.
Mas tu não és esse corpo.
Não é uma negação do corpo, nem uma negação da vida, mas, bem mais, a transcendência, a transfiguração e a ressurreição da verdadeira Vida: aquela que não é finita e que, além disso, nunca começou.
O que incomoda é o testemunho.
O que incomoda é o Si.
O que incomoda é crer que há um caminho, é crer que há uma verdade a encontrar.
O mundo é uma projeção.
Uma projeção de quê?
Do pensamento e da Consciência.
Tu não és nem o pensamento, nem a Consciência, nem o agente que projetou a Consciência ou o pensamento.
Tu estás para além de tudo isso.
Como eu o dizia: isso não é uma procura, não é um tempo porque desde o instante em que tu consideras que há tempo a consagrar a, tu permaneces no finito.
E o Absoluto não pode estar aí para ti.
Tu te afastaste, de qualquer modo, do Absoluto.
O Absoluto está para além da Alegria porque a Alegria é a contemplação do Si, pondo fim a uma certa forma de sofrimento, efetivamente, mas que não responde nunca à questão de quem tu És, porque o próprio Si não é senão uma projeção ao nível de uma densidade diferente daquele que vocês conhecem no eu, mas que permanece inscrita no eu. 
Onde queres tu estar inscrito?
A única angustia do humano é o desaparecimento.
Vocês não podem desaparecer. 
Esse saco de comida desaparece.
Esse mundo desaparece.
O universo desaparecerá.
Os conceitos e os pensamentos desaparecerão.
Mas o que susteve isso não desaparecerá nunca porque, justamente, nunca apareceu. 
Portanto, olha, sem procurar.
Muda simplesmente o olhar.
O que é que nunca apareceu?
O que é que nunca desapareceu?
O que é que sustem todas as experiências, sem participar na experiência?
Não é nem a testemunha, nem o observador.
É qualquer coisa que está a montante, se me posso exprimir assim.
É o que tu És, não no eu sou, mas na própria negação do eu sou.
Lembra-te de que as minhas palavras não estão destinadas a ser entendidas por todo o mundo, porque elas perturbam.
Elas perturbam o finito e se perturbam com o finito, é por vezes prejudicial.
Enquanto tu considerares que não terminaste de conduzir as tuas experiências (que não te pertencem mais que o teu corpo), então, certamente, o Si se deleita com o despertar da Kundalini, das suas viagens, dos seus sonhos, da sua Paz, da sua Alegria.
Mas mesmo isso flutua porque quem pode dizer, mesmo no seio do Si, que passa a Eternidade no Si?
Reflitam: que se torna o Si, uma vez que esse corpo já não está aí?
Que se torna a Consciência, uma vez que esse corpo já não está aí?
Onde estavas tu antes de estares nesse corpo?
Estavas num outro corpo?
E mesmo se esse for o caso, se há aparentemente uma solução de continuidade entre um outro corpo e esse corpo, onde estavas tu, entre os dois?
Tu tens disso a clara visão, o claro sentimento?
Tu sabes o que está para além da Essência?
Enquanto houver uma procura, vocês não estão instalados no bom olhar ou no bom ponto de vista, porque a procura se inscreve no tempo e, como vos disseram muitos ensinamentos, o tempo não existe.
É muito agradável.
Se o tempo não existisse, esse corpo não existiria.
Muito simplesmente.
Essa Consciência não existiria.
Essa presença não existiria.
Só permaneceria Absoluto, este Último.
Mas este Último, mais uma vez, não é uma busca.
É uma Verdade que não depende de nenhuma experiência, de nenhum corpo, de nenhum conceito, de nenhuma Consciência.
A Consciência está ligada à experiência e à projeção, qualquer que seja a Consciência.
O único momento em que vocês não têm consciência é aquele em que vocês dormem e, no entanto, vocês acordam de manhã tendo, como eu já o disse, o sentimento de ser o mesmo.
Porque há o quê?
A memória da vigília, a memória de uma história limitada nessa vida, ou (para os buscadores espirituais) de todas as vossas vidas.
Mas qual é a importância?
O que era ontem não é o que vocês são hoje.
E o que vocês São, realmente, não tem nada a ver com o tempo.
O tempo é uma criação artificial, qualquer que seja o tempo.
Além disso, o tempo é o espaço desprovido de tempo mas vocês não são, também, nenhum espaço.
Vocês não dependem do espaço / tempo.
O que depende do espaço / tempo é uma pessoa.
Vocês não são uma pessoa.
É um jogo.
Enquanto vocês permanecerem uma pessoa, vocês alternam entre prazer e desprazer, sofrimento e alegria.
Desde que haja emoção, há tempo, há reação.
Enquanto houver conceito, enquanto houver pensamento, há tempo.
O tempo é a Ilusão que vos faz crer num caminho e que vos perde num caminho, que vos dá satisfações, que alimenta a Ilusão e a esperança ou o desespero, mas vocês não são nem esperança, nem desespero.
Vocês são o que foi chamado a Morada da Paz Suprema, essa Beatitude Absoluta que existe desde que vocês não sejam mais uma pessoa nem um indivíduo.
Ora, o paradoxo é que a pessoa, como tu a exprimes, ou o indivíduo, se tu estás no Si, passa o seu tempo a reivindicar uma procura do que já aí está.
Quando tu tiveres apreendido que não há nada a procurar, que não há nada a encontrar, que não há nenhum caminho, o caminho parará por si mesmo, a busca parará por si mesma.
Tu sairás da esperança e do desespero.
Tu não serás mais afetado pela vida desse corpo, pela vida desses pensamentos, desses conceitos.
E, no entanto, isso não desaparecerá, porque isso tem um termo mas o ego vai-te fazer crer que se tu considerares esse ponto de vista tu pões termo à tua vida, o que é falso.
O ego é muito maligno para evitar que penses assim, porque ele sabe que se tu realizares este gênero de pensamentos, esta refutação, ele vai desaparecer.
O saco de comida, que tu és, ocupará sempre um dado espaço e um dado tempo, mas tu não serás mais essa pessoa nem essa identidade.
Nesse momento (que não depende de um tempo mas de um ponto de vista), saiam desta noção linear de tempo.
Não há espera, já está aí.
Aceitar isso é já se extrair do jogo da pessoa ou do individuo.
Eu o repito, ainda, para ti: A espera corresponde ao tempo, o caminho corresponde ao tempo.
O ego vai encontrar todos os pretextos para te dizer que a vida é eterna mas tu sabes o que é a Vida?
Onde está a Vida?
Será que ela está no efêmero, no que é perecível, ou no que sustem absolutamente tudo?
Se eu insisto tanto sobre o ponto de vista é porque o ponto de vista vos faz sair do tempo.
E a única forma de sair do tempo é entrar no espaço, não para ocupar o espaço ou os espaços, não, unicamente para estabelecer as Comunhões ou as Fusões ou mesmo as Dissoluções, mas, bem mais, para se extrair da vossa própria Consciência, o que eu denominei a-consciência.
A Consciência tem tanto medo de não mais existir que ela constrói quimeras, tanto no eu, como no Si.
A plenitude do eu, ou do Si, vos compele a procurar essa plenitude, embora ela lá tenha estado sempre.
Simplesmente a plenitude, vocês a instalam no tempo de uma vida, ou de várias vidas, ou em conceitos e em pensamentos que se difundem também no tempo.
E assim vocês mantêm, de forma indefinida, a experiência.
A experiência não é o Absoluto.
Justamente, é a cessação da experiência, de toda a Ilusão.
A Morada da Paz Suprema é o testemunho do Absoluto, na forma.
A forma não é mais afetada, nem pelos conceitos, nem pelos pensamentos, nem pelas experiências.
Ela vai onde deve ir.
A vida se desenrola como ela se deve desenrolar, na maior das facilidades, mesmo com uma doença muito grave, mesmo sem comer, mesmo sem dinheiro ou mesmo na riqueza e na felicidade. Isso não muda nada.
O que é que mudou?
O ponto de vista.
Mudar de ponto de vista: Não há outra alternativa.
Agora é preciso apreender, também, que a culpabilidade não serve para nada.
Se tu considerares que as experiências são boas para ti, então tu tens a eternidade do teu tempo para as realizar.
Não consideres nunca o Último como um objetivo porque não é um objetivo.
É uma Realidade Absoluta que já está aí.
É isso que é, de qualquer forma, o nó do problema.
A Consciência está ligada ao linear e ao tempo.
Vocês não estão ligados à Consciência e ainda menos ao tempo.
Prossigamos.

***

Pergunta: Como viver a paz e a alegria?

Eu te responderei: por que viver a paz e a alegria?
Já, na questão, tu significas que a paz e a alegria não estão lá?
A Morada da Paz Suprema não tem que fazer as pazes e as alegrias efêmeras.
 Mesmo a alegria do si não o faz.
Não o faz senão pela lembrança da experiência ou pela repetição do Si, instalado no Samadhi, enquanto experiência.
Tu deves, primeiro, definir o que tu queres porque, quando tu dizes: «como viver a paz e a alegria ou estar em paz ou em alegria», quem pergunta isso senão a personalidade que quer ser aliviada mas, sobretudo, manter-se, continuar a existir?
O que é que faz a personalidade ter necessidade de se manter e de existir?
É, certamente, o medo. 
Mas enquanto o medo estiver lá, qualquer que ele seja, nenhuma paz, nenhuma alegria, te pode conduzir à Morada da Paz Suprema.
O medo está inscrito na memória, na história e nas experiências, porque o saco de comida não existe senão para o medo.
Sem medo ele nem sequer teria aparecido.
E, portanto, ele não teria necessidade de desaparecer.
Procurar a paz e a alegria, é procurar um medicamento espiritual, não químico, mas um medicamento.
É já saber que alguma coisa não está bem.
É querer ter uma solução. 
Não há solução.
Também não há problema.
Tudo depende do olhar. 
A paz, a alegria, são qualquer coisa que vocês querem conquistar porque vocês consideram que é exterior ao que vocês são, porque tudo isso vem do principio da falta, do principio do medo.
Justamente, o medo e a falta são a característica do efêmero, de tudo o que é dual.
O equilíbrio da dualidade não poderá nunca alcançar a Morada da Paz Suprema porque este equilíbrio é instável.
Ele oscila, quer seja no eu ou no Si.
Apenas o Absoluto, que tu És, de toda a Eternidade, te permitirá ultrapassar este «como» ou este «porquê».
Aí também, o ponto de vista é primordial, porque enquanto tu refletires, enquanto tu fizeres esforços, enquanto tu creres progredir, tu ficas e permaneces no seio da personalidade e, em caso algum, na Morada da Paz Suprema.
É preciso mudar de Morada.
Esse corpo está aí e se tu o suprimires, ele voltará.
Portanto, não há nada de que fugir, não há nada a rejeitar, ou a adotar. 
Há apenas que mudar o teu olhar.
Porque todo o olhar adotado pela personalidade ou o si não é senão o resultado de uma projeção, de um conceito, de um pensamento, de uma ideia ou do que quer que seja.
Se tu queres viver a Liberdade, mais do que a paz ou a alegria, então liberta-te porque tu já o És.
A Consciência, eu te recordo, é uma projeção, no exterior.
Tu constróis o Si, como o eu, através da negação daquilo que não és tu, do que não é o Si.
Tu defines, por isso, um certo número de critérios ou de ideais.
E tu procuras.
Então, claro, é mais fácil estar no Si que no eu, porque no Si, a paz e a alegria são mais frequentes, cada vez mais frequentes, em intensidade, em tempo, em espaço e em Consciência.
Mas isso não será nunca a Morada da Paz Suprema porque tu és tributário daquilo que tu mesmo criaste como conceito, como ideia, como pensamento, como objetivo.
A partir do instante em que tu aceitares que não há nem como, nem porquê, e, portanto, nenhum objetivo, a verdadeira Paz pode começar a aparecer ao teu olhar porque a verdadeira Paz não depende de nenhuma circunstância exterior, nem mesmo Interior.
Esta paz, chamada Morada da Paz Suprema é o que é o Absoluto, não dependendo de nenhuma condição, de nenhuma ideia, de nenhum conceito e, sobretudo, de nenhuma projeção.
Aceitar isto, é vivê-lo.
Mas não coloquem por trás disto a noção de objetivo.
Não coloquem atrás disto uma espera.
Resumindo, não coloquem aí nenhum tempo porque o ego, como o Si, vão tentar armadilhar-te no tempo, um tempo mais ou menos largo, mais ou menos alargado, mas sempre um tempo.
Substitui o tempo pelo espaço.
O mesmo é dizer: não procures localizar-te fora, assim como não te procuras localizar nesse corpo, nessas ideias, nesses conceitos ou nesses pensamentos.
Nesse momento, a necessidade de experiência se calará.
O observador será, ele próprio, visto. 
E tu és, muito exatamente, o que está atrás do observador e que nunca experimentou o que quer que seja.
É o sono, é a Dissolução.
São os momentos que todos vocês conheceram, de manhã, ao despertar: quem sou eu e onde estou eu? 
Quando vocês acordam assim, em vez de pensarem nas vossas angústias, no vosso marido, na vossa mulher, o que é que se passa?
Vocês estão, muito precisamente, um milionésimo de segundo, um segundo, na Morada da Paz Suprema.
Lembrem-se de que é sempre a Consciência que procura a prova, que procura a experiência, que procura o tempo.
A partir do instante em que tu apreenderes isso, tu não te colocas mais a questão da paz e da alegria.
Mas, para isso, é preciso extrair-te de todas as identificações: «eu sou um homem»«eu sou uma mulher»«eu tenho tal idade»«eu tenho tal trabalho»«eu ocupo tal função».
Vocês não são nada de tudo isso.
Eu não disse que isso não existia.
Bem pelo contrário: isso existe.
Mas tu és o que existe ou tu És outra coisa?
Se tu queres a paz e a alegria, não sejas nada disso.
Extrai-te, a ti mesmo.
Para isso, a pessoa deve desaparecer; não desaparecer por um fim de vida, que seria mais uma vez um espetáculo ridículo, mas antes se extrair de toda a Consciência, de toda a experiência, de todo o folclore, de todo o espetáculo.
Se tu chegares a fazer isso, para além de qualquer milionésimo de segundo ou segundos, tu não terás mais nenhum problema de paz e de alegria ou de corpo ou de Consciência.
A Vida se desenrolará sem intervenção do ego ou do Si.
Tu esperarás tranquilamente, fazendo o que é para fazer, o que a Vida te dá a fazer, neste mundo, mas tu não serás mais afetado pelo que quer que seja.
Aí está a Liberdade.
Então, certamente, há entre vocês, que fizeram experiências fora desse corpo, fora desse tempo, fora dessa Dimensão, mas isso não são senão experiências.
O Absoluto está para além de toda a experiência. 
Mas se tu tens sede de experiências, então, tu as viverás.
Se tu tens sede de encarnação, então, tu as viverás até te saciares.
O ser humano encarnado tem sempre sede porque ele é construído sobre o medo e a falta.
Se, um dia, tu não tiveres mais sede, isso quer dizer que não há mais medo e mais falta, que não há mais procura de paz e de alegria porque tu te terás tornado o que tu És, de toda a eternidade: a Morada da Paz Suprema.
Mas enquanto tu estiveres ligado a ti, ao que tu crês seres tu (esse corpo, essa pessoa, essas ideias, esses conceitos, essa procura, este espetáculo), tu participas no espetáculo, tanto de uma maneira como de outra, enquanto ator, ou aquele que olha, mas tu não saíste da Ilusão.
E a embalagem, seja o ego, seja o Si, estão persuadidos que eles vão poder continuar a ser este efêmero porque, finalmente, o ego e o Si quererão que o efêmero dure.
Mas o efêmero não se tornará nunca Absoluto.
É uma Ilusão.
Neste sentido, procurar o Absoluto não quer dizer nada.
Procurar a paz e a alegria é uma projeção da Consciência e não quer dizer nada, para o Absoluto.
O Absoluto, é precisamente o momento em que todo o ponto se torna o centro e não há centro a procurar porque tudo é centro.
E não há nada a projetar, quando tudo é centro, porque cada centro produz as características de todos os outros centros (supostos, projetados ou imaginados).
Tu não és o ponto de vista da pessoa, tanto nas suas alegrias como nos seus sofrimentos.
Aquele que é Absoluto pode manifestar qualquer coisa nesse saco (e mesmo qualquer coisa de manifestado, de muito doloroso) e, no entanto, ele não é isso.
E se ele o sabe, então, qualquer que seja o sofrimento, ele não pode ser afetado por ele ou alterado.
Aí está a verdadeira Paz.
Aí está a verdadeira Alegria.
Bem além da contemplação da Luz porque, enquanto vocês contemplarem ou olharem a Luz, vocês colocam uma distância.
Quando eu digo: «mudem de olhar» ou também «mudem de ponto de vista», isso vos leva a se extraírem de todo o olhar e, portanto, a não mais olharem.
Porque a única forma de tudo ver é estar no centro.
Ora, o centro não mexe nunca.
Ele está em todo o lado.
A imobilidade, como o sono, participa no estabelecimento do que eu denominei a-consciência.
Então, a procura de um ideal, de um marido, de uma mulher, de um trabalho, de um além, vos afasta.
É o paradoxo.
Vocês acreditam avançar mas vocês recuam, enquanto vocês não compreenderem que vocês nunca se mexeram.
Vocês passam de um a outro e os vossos humores flutuam no mesmo sentido, e os vossos pensamentos flutuam no mesmo sentido.
É como quando vocês dizem: vocês procuram o Amor.
Mas vocês São o Amor.
Vocês não podem procurar o Absoluto, porque vocês o São.
Vocês não podem procurar o Amor, porque vocês o São.
Vocês não podem procurar a Luz porque vocês a São. 
É mesmo esta noção de procura que, num dado momento, na vossa procura temporal, deve cessar.
Podemos dizer que este mundo só existe porque as multidões de Consciências aí são projetadas.
Quando vocês dormem, como eu o disse, o mundo desaparece.
Vocês não se colocam a questão de saber se ele vai reaparecer amanhã.
Além disso, tem a certeza? 
Não existe, como vocês o sabem, nenhuma certeza sobre este mundo, senão a morte desse saco.
Não se coloquem a questão do destino desse saco, nem das leis desse saco mas, verdadeiramente, porquê e quem São vocês, sabendo que vocês não encontrarão nenhuma resposta no que vos é dado a perceber, a sentir e a ressentir, porque vocês Estão para além de tudo isso.
Mas enquanto a vossa Consciência estiver virada para uma projeção de um ideal (mesmo o mais elevado, mesmo o maior Amor), isso permanece sempre, e permanecerá sempre, uma projeção que vos afasta da Morada da Paz Suprema.
 Aceitem este postulado. Façam dele a Verdade porque não há outra.
Lembrem-se: o efêmero está construído sobre os medos e as faltas.
Se vocês procurarem preencher os medos e as faltas, vocês mantêm o efêmero, nesta vida ou em outras vidas.
Vocês são verdadeiramente isso?
Agora, se vocês são verdadeiramente isso, então, continuem.
Cabe a vocês decidir: o efêmero ou o Absoluto?
A Morada da Paz Suprema ou a alegria do Si?
Contemplar o seu próprio umbigo ou o coração, ou parar a contemplação, a fim de ser o que vocês São para além de todo o tempo?
Cabe a vocês definir.
Cabe a vocês decidir.
Nenhum elemento exterior pode decidir no vosso lugar: nenhuma paz projetada, nenhuma alegria projetada, nenhum amor projetado, nenhum efêmero.
O objetivo do efêmero é o de vos fazer crer que vocês podem encontrar o Infinito no efêmero.
É falso. 
A melhor forma de encontrar a Paz e a Alegria eternas é se esquecer de si mesmo.
É o que se passa quando tu dormes, normalmente.


Pergunta: Como posso eu refutar o medo de não saber formular e fazer uma pergunta?
A pergunta é uma interrogação: toda a questão, aquela que tu me podes colocar, ou não importa a quem.
Quando tu te colocas a questão de saber se chove, tu olhas pela janela ou tu vais ver o céu.
O problema é que se tu te colocas uma questão do Absoluto, tu não podes ter resposta.
O princípio é: «tu és o que tu procuras».
O que quer dizer, mais uma vez, o medo?
O medo não é senão a falta, levada ao extremo.
E todos os medos (como eu o disse) nascem no mito da morte.
É muito fácil dizer que o ciclo da vida e da morte faz parte da vida.
Neste caso eu te respondo: onde estás tu quando estás morto já que não estás mais na vida, tal como tu o definiste?
A consciência desse corpo, do eu, como do Si, desaparece.
Será que tu vais desaparecer?
Sim. O medo está aí.
O medo de colocar uma questão (ou de não a saber colocar) não está destinado senão a te dar ainda mais medo.
Enquanto tu colocares uma identidade (ou uma não-identidade) sobre o medo, tu consideras que o medo é a tua vida.
Pouco importa saber se o medo vem disto ou daquilo, já que, definitivamente, todo o medo está ligado e está justificado pelo efêmero.
Quando tu dormes, sem sonho e sem pesadelo, tu tens medo? 
O que é que tem medo?
Enquanto tu alimentares o medo (de não saber, de viver o que quer seja de desagradável), tu não podes ser Absoluto (que já aí está).
Pode mesmo dizer-se que o ser só é suportado pelo medo.
Porque o ser que é suportado pelo Amor, porque ele É, é Absoluto.
Aí também (mais uma vez), o que faz falta é a perda e o medo.
A perda e o medo inscritos no limitado.
Isso quer dizer o quê?
Que tu estás identificado com o teu saber, com a tua pessoa.
Tu estás, portanto, ligado ao efêmero.
Aí vem o medo. Aí está a origem inicial e final do medo.
Ora, a única coisa à qual tu não podes estar ligado é ao que tu És, na Verdade.
É o apego à pessoa (que não é o que tu És) que inicializa e mantém o medo.
O medo é uma secreção do corpo e os vossos sábios os sabem: há hormônios do medo, como há hormônios da alegria. 
Mas será que tu és uma secreção desse corpo?
Não. 
Tu estás, simplesmente, identificado com ele.
Por quê?
Por causa do medo.
O medo gera o medo.
Não há nenhum meio para sair disso.
Tu podes colocar-lhe o bálsamo (acalmando) do Si.
Tu podes colocar-lhe o bálsamo (acalmando) do sono ou da química, para lutar contra o excesso ou a insuficiência, nesse corpo.
Mas tu não és nem o excesso, nem a insuficiência, de um ou do outro.
Imagina (porque é a Verdade) que o medo é segregado pelo corpo.
O medo tem um odor, além disso: há a química, lá dentro.
Mas será que tu és essa química?
Não.
Simplesmente a tua consciência se identificou com isso.
E tu me vais responder que, quando tu vives o medo, tu tens medo.
Ou quando tu vives a fadiga, tu estás fatigado.
Ou quando tu vives a morte, tu vives a morte.
Mas tu não podes morrer.
É esse corpo que morre.
Enquanto vocês tiverem medo da morte, vocês têm medo de viver.
Enquanto vocês tiverem medo de viver, vocês têm medo da morte.
Porque vocês não sabem o que há depois do efêmero.
Mas vocês não o podem saber, de maneira nenhuma, em nenhuma experiência, mesmo no reencontro com a Luz.
Isso não vos pode trazer senão boas lembranças, bálsamos calmantes para o sofrimento e o medo, substituindo a secreção do medo pela secreção da paz ou da alegria.
Mas a Morada da Paz Suprema não está inscrita na química.
É o olhar que muda.
Aquele que tem medo inscreveu a sua crença no efêmero, qualquer que seja esse medo, qualquer que seja o efêmero que é vivido.
Vocês não podem encontrar nenhum contentamento definitivo fora do que vocês São, verdadeiramente.
Porque todas as alegrias, todas as penas, não duram senão um tempo.
Todos os seres humanos o sabem.
Mesmo os grandes seres que viveram a Morada da Paz Suprema (e vivendo, portanto, o Absoluto, na forma) passaram por estas etapas, porque isso faz parte da Ilusão deste mundo.
Tu não podes mostrar a Ilusão deste mundo.
Tu não podes mostrar a Ilusão desse corpo porque se lhe batemos, ele fica doente, e a consciência vive isso.
Tu não podes senão refutá-lo.
Refutar não é mostrar.
Refutar não é opor-se e ainda menos (como eu já o disse) negar.
É mudar de olhar, de ponto de vista.
Vocês não são nem o que sofre, nem o que está contente, nem o Si, nem o eu.
Se vocês aceitarem isso, vocês o vivem.
Nenhum medo pode emergir.
E mesmo se ele emergir, ele não tem controle.
Mas enquanto vocês lutarem, enquanto vocês se opuserem ao que quer que seja, na Ilusão, vocês mantêm a Ilusão.
Quando vocês dormem a Ilusão não existe mais.
É aí que está o problema.
O medo é um estímulo que te mantem na Ilusão.
Porque, para aquele que está na ilusão, a ilusão faz menos medo que o Absoluto.
 Além disso, para ele, o Absoluto não existe.
Ou então, ele o contempla num tempo futuro, como um esforço a prestar, qualquer coisa que está longe, no tempo como no espaço.
Isso não faz senão assinar o vínculo formal ao saco de comida ou ao saco de pensamentos.
É a mesma coisa, mesmo se tu não o vês.
Aquele que disse: «eu penso portanto eu sou» não pode penetrar o não-ser, não pode abandonar o «eu sou».
Ele só pode refiná-lo e construi-lo.
Mas quanto mais o refinar e mais o construir, mais ele próprio se confinará, no seu próprio isolamento, no seu próprio medo, nas próprias salvaguardas, nos seus próprios limites.
Enquanto ele tiver limite, enquanto ele tiver salvaguarda, ele não tem Liberdade.
E, no entanto, vocês reivindicam, todos, a liberdade.
Mas vocês têm medo da Liberdade, porque é o que vocês São.
Só a consciência vos impede de o ver.
Não é qualquer coisa para consciencializar, mas é qualquer coisa para fazer cessar.
É exatamente o inverso do que vos quer fazer crer na pessoa que vocês creem ser (este saco de comida, este saco de pensamentos).
Lembrem-se: nenhum saco, mesmo o mais perfeito, é Absoluto.
Porque um saco é um limite entre o que está dentro e o que está fora.
Portanto, enquanto vocês considerarem que vocês são um saco, isso quer dizer que vocês consideram que há um dentro e um fora.
E enquanto vocês considerarem isso, o medo está lá.
É uma secreção do saco.
Vocês não são o saco.
Vocês não são, também, o que constitui o saco.
Vocês não são, também, todos os sacos.
O Absoluto não conhece o limite.
Não, portanto, saco.
Mas deixa tranquilo esse saco, não te ocupes dele, deixa-o viver o que ele tem a viver, quer isso seja no trabalho, no amor ou no que quer que seja.
E tu perceberás que, se tu o deixares viver, sozinho, a tua vida se tornará maravilhosa e o Absoluto estará aí.
É justamente a implicação da própria pessoa (ou do próprio Si) que envolve o saco e que torna esse saco medroso.
Tudo o que vocês chamam de controle, de matriz, é ausência de Liberdade.
É um constrangimento.
Então, vocês se vão defender dizendo que vocês estão encarnados e que é preciso estabelecer regras.
Mas as regras são boas para o saco, para os pensamentos, para a moral, mas não para o que vocês São.
A não ser que tu consideres que te é qualquer coisa de moral.
Tu não és mais a moral que o medo.
Tu não és mais esta vida que se vive, esta morte que se vive, este nascimento que se viveu.
É um concurso de circunstâncias.
Quer tu o chames cármico ou evolutivo, é falso.
Sai de tudo o que te sobrecarrega e tu verás que o medo não existe noutro lugar senão no que te sobrecarrega.
O saco não é culpado (nem dos alimentos, nem dos pensamentos).
Ele está aí e é isso.
Mas tu não Estás aí.
Descobre onde tu Estás (fora do tempo) e tu verás que esse saco de comida e de pensamentos se portará maravilhosamente.
Quer ele viva ou não.
Enquanto tu permaneceres tributário dos afetos, dos medos, das perdas ou dos ganhos, é a mesma coisa.
É ilusório.
O ser humano, de uma maneira geral, quer pôr a Eternidade no efêmero.
Mas é falso.
É o efêmero que está na Eternidade.
O Absoluto contém o efêmero, mas nenhum efêmero pode conter o Absoluto.
São as matemáticas elementares.
Tu não podes ser o centro e a periferia.
Tu não podes ser o movimento e o imóvel.
Salvo se tu te tornares o centro e expandires esse centro por todo o lado, já que é o mesmo centro.
Quando eu vos dizia (ou quando vos diziam, sobretudo agora) para permanecer tranquilos, isso não queria dizer ficar sentado num canto e nada fazer.
É para permanecer tranquilo nos pensamentos, não dar peso e lugar, nem ao medo, nem às experiências, nem ao que quer que seja. 
Vocês querem ser a Morada da Paz Suprema que vocês São já e vocês fazem tudo para se afastarem disso.
A Morada da Paz Suprema não tem o que fazer com o que vocês fazem ou com o que vocês creem ser.
Ela é já o que vocês São.
Vocês São isso.
Vocês São o centro.
Vocês não são o centro do mundo: sem isso, é o eu.
Vocês também não são o centro do coração: sem isso, é o Si.
Mas vocês São todos os centros, não somente esses dois.
O que é que vos limita?
O saco.
Mas vocês não são esse saco, nem as ideias, nem os pensamentos, nem a comida.
 Aceitem isso porque é a Verdade.
Não é uma crença, é justamente o fim de todas as crenças.
Parem de crer.
Quando tu me dizes: «eu tenho medo», mostra-me o teu medo.
És capaz de me mostrar?
Quando tu dizes: «eu sou este corpo», eu vejo esse corpo mas prova-me que tu és esse corpo.
É uma crença, uma experiência, mas não é a Verdade.
Se tu te livrares desse peso, mesmo se isso te parecer absurdo (mas, claro, que o ego vai achar isso absurdo e o Si também), mas se tu entras naquilo que tu denominas absurdo, tu te descobrirás Absoluto.
Porque, lembra-te de que, para o conhecido (para a pessoa como para o indivíduo), o Absoluto é absurdo.
Mas, evidentemente, deste ponto de vista, sim. 
Muda o ponto de vista e tu viverás o que tu És. 

***

Pergunta: De ontem para hoje, a vida que eu levava e que era aquela que eu sempre desejei, me pareceu vazia de sentido, como se fosse de outro. Hoje não me reconheço mais, nem nas escolhas que eu fiz, nem naquelas que se apresentam a mim. O que fazer? 

Justamente: nada fazer.
Não é preciso nenhuma solução, já que tu encontraste a solução.
Se me posso exprimir assim, tu estás a cavalo (precisamente) entre o jogo do Si e do Absoluto.
Certamente, como tu o sabes, não há passagem, nem do eu, nem do Si, para o Absoluto.
Mas ser Absoluto é quando o eu e o Si são absurdos.
É exatamente o que tu vives.
Portanto, eu te felicito e tu deves felicitar-te.
Isso prova, simplesmente, que o eu não quer mais jogar.
Isso prova que o Si, que era o objeto de todas as atenções, ele também, se dissolve.
Sobretudo, não peça nada.
Não projetes nada.
Tu estás no bom caminho, o que te diz que não há caminho. 
Não escutes à volta nenhuma voz, mesmo a minha. 
Porque tu estás aí.
Vai aos limites do que te parecer justamente absurdo.
O Absoluto está lá.
O que se passa (e o que tu vives) foi chamado de dissolução da alma (ou a consumação da alma) que não está mais virada para a Ilusão, nem para a experiência, mas que volta para o Espírito.
Vocês têm aquela que foi uma grande dama, que vos falou disso (Ma Ananda Moyi) numerosas vezes.
Não há outra forma de desaparecer e de aniquilar.
O desaparecimento não é a morte. 
Desaparecer é sair do parecer.
É, enfim, ser claro, não parar mais nada, não desejar mais nada.
Não é a morte do desejo, não é o desinteresse, mas é a Verdade.
É o lugar fora do tempo (o centro como todos os centros) onde se encontram todos os contentamentos.
Então, certamente, do ponto de vista do que está limitado, isso pode parecer-te perturbador, desesperante, vazio.
Mas, se tu fores ao limite, é pleno, é o Absoluto, é isso.
Há apenas, aí também, a percepção do observador que observa que tudo o que fazia a tua vida não existe mais.
Mas como eu disse: tu não és a tua vida, inscrita entre o nascimento e a morte.
É preciso pôr fim ao que é conhecido, a tudo o que é conhecido para, enfim, ser, para além do eu sou, na não-consciência que eu chamei de a-consciência, que não é a inconsciência.
Portanto, sobretudo, não faças nada, não mudes nada.
Permanece tranquilo.
Porque à força de observar esse nada (como tu o observas), o Absoluto está aí.
Não há nada mais simples.
Desde que isso vos pareça complicado, é o eu que intervém, a pequena pessoa, o saco.
Permanece aí onde tu estás e deixa se desenrolar o que se desenrola.
Se tu aceitares isso, sem te implicares, sem indiferença, sem desejo do que quer que seja e se fizeres mesmo parar o jogo do observador, tu sairás do teatro.
É a única condição possível para viver e Ser a Morada da Paz Suprema, aqui como em qualquer lugar.
Tu terás vencido as tuas Trevas, que no entanto tu chamavas de tuas Luzes, que partiram. 
Não te esqueças de que tu estás invertido, sobre este mundo: o que vocês chamam de vazio, está pleno e o que vocês chamam de matéria, está vazio. 
Os vossos sábios o sabem.
Tu, tu tens a chance de vivê-lo.
Então, sobretudo, não procures saber, porque o saber é uma projeção.
O que tu vives porá fim à experiência e, portanto, à consciência limitada.
Não é possível nenhuma dúvida sobre isso.
E se vocês se interrogarem a si mesmos, uns e outros, vocês perceberão que é o caso para muitos entre vós, que trabalharam para o Si.
Aí também, cada vez mais, o que há a apreender não é um saber, nem uma compreensão, nem uma experiência, nem o eu, nem o Si, mas, simplesmente: mudem o ponto de vista.
Aceitem o aparente absurdo da coisa para descobrir o verdadeiro sentido, o mesmo é dizer, a Essência (e não o sentido, em duas palavras).
Não há nenhum sentido.
Os sentidos vos enganam.
Apenas a Essência (numa palavra) é a solução.
E enquanto houver sentido, não há Essência.
Enquanto vocês quiserem dar sentido, uma lógica, à vossa vida, às vossas experiências, ao vosso Si, vocês não estão prontos para deixar ir, vocês se agarram ao efêmero.
Portanto, o que tu vives (ou antes o que tu não vives) é exatamente isso: o que tu És.
 Então, claro, a personalidade, o Si devem fazer o luto, porque é a morte do efêmero.
 E isso pode fazer medo ou, em todo o caso, interrogar.
Se tu ultrapassares o medo ou a interrogação, tu constatarás rapidamente que tu És a Morada da Paz Suprema.
Está aí.
Tu És isso.
Mais uma vez, não procures compreender, agora.
Tu terás todo o tempo para refletir e tu compreenderás então que não há nada a refletir.
Há apenas que ceder ao que morre, não o alimentar, não procurar saber.
Então, dito de forma poética, diremos: «tornem-se novamente como uma criança».
 Mas uma criança é ainda um saco. 
Vão para além da criança, antes do saco.
Tu Estás aí. 

***

Pergunta: Uma fragilidade me faz passar do riso, da ligeireza, à densidade, aos pensamentos obsessivos contínuos, mesmo sem o consciencializar. Então, eu sou incapaz de amar e ser amado, de me centrar e mesmo de refutar. Como sair deste inferno?

Mas, o inferno és tu, no que tu crês ser.
Não há outro inferno. Reflete.
Amar ou ser amada é já considerar que há uma falta, já que tu És Amor.
Projetar o amor é se afastar de Ser Amor.
Porque aquele que É Amor, absolutamente, não tem necessidade de decidir amar ou de procurar amar, ou mesmo de ser amado.
Uma vez que esta é a sua Essência.
Há, atrás da tua pergunta, a culpabilidade.
O efêmero oscila: tu não podes encontrar equilíbrio, de maneira nenhuma, de forma durável, no seio do efêmero.
O problema é o narcisismo porque, fundamentalmente, esse inferno que tu descreves está ligado ao teu próprio narcisismo, à necessidade de voltar a si mesmo, no eu. 
É o centro do umbigo.
É procurar as causas dos sofrimentos, das oscilações, dos humores.
Mas, fazendo assim, tu manténs a Ilusão de não te achares digna de amar e ser amada.
Mas tu não tens que ser digna (ou indigna) já que tu És Amor.
Enquanto tu procurares o amor no ato de amar, na necessidade de amar (ou na necessidade de ser amada) tu não fazes senão negar a tua própria natureza.
Todos os seres humanos reivindicam agir, no mínimo uma vez nas suas vidas, por amor, qualquer que seja a expressão desse amor (sexual, filial, passional, espiritual).
Enquanto tu procurares, haverá falta. 
Se tu não procurares mais, a falta deixa de existir. 
Procurar o amor é como pedir a uma maçã para procurar uma semente.
Mas a semente está dentro dela.
Tu não podes procurar, no exterior, uma satisfação interior, se não for para ficar e permanecer na Dualidade e na alternância prazer/desprazer, em qualquer amor que seja (sexual, passional, filial).
Tudo isso não são senão amores humanos que não refletem senão a falta de amor do que vocês realmente São.
Porque o vosso olhar não é bom.
Tudo isso vem das crenças, de todas as crenças, quaisquer que sejam, de todas as memórias (tanto as vossas como as dos outros), quaisquer que sejam.
Mas vocês não são um ser de memória ou de crenças.
Vocês São Absoluto.
Vocês São Amor.
Como é que o que é ilusório (Maya) poderia trazer qualquer satisfação que fosse durável?
Porque mesmo a satisfação mais durável se desligará com a tua própria morte, desse corpo, desse corpo de comida.
O ego se crê, em permanência, imortal.
Em todos os amores que existem, ele os quer infinitos e eternos, para além da morte. 
Mas nenhum amor, vivido aqui, é o Amor.
Todo o amor (mesmo o mais desinteressado, mesmo o mais espiritual) não é senão a tradução da falta de reconhecimento do que vocês São: Amor.
Como o medo, como o narcisismo, como o inferno, que não são senão não reconhecimentos da vossa natureza, da vossa Essência.
Vocês colocam peso onde não existira nenhum peso.
O Amor não é uma responsabilidade.
O Amor não tem que ser justificado e não é justificável.
Ele não tem que ser procurado ou encontrado.
Nem há mesmo que se colocar a questão da sua manifestação, ou da sua ausência, ou da sua presença.
Porque é o que vocês São.
É o ego que queria ser Amor.
Mas ele não poderá jamais sê-lo já que o ego está construído sobre a falta de Amor, sobre o medo. 
Portanto, tu não podes permanecer no teu umbigo e reivindicar o Amor.
O único verdadeiro Amor é aquele aonde vocês desaparecem, enquanto pessoa, enquanto indivíduo, enquanto consciência, enquanto procura.
Se vocês pudessem parar tudo isso, com um golpe de varinha, e permanecer tranquilos, vocês constatariam instantaneamente (como eu já o disse) que vocês não são nem o ator, nem a cena do teatro, nem o espectador, nem o teatro.
Vocês desempenham um desses papéis e vocês acreditam completamente nele, mesmo sabendo, pertinentemente, que todo o papel tem um fim, como esse saco.
Então, podemos falar da alma, do Espírito.
Mostrem-nos.
A única verdade é o Amor, a Morada da Paz Suprema, o Absoluto, o Eterno, não-efêmero, não-eu, não-Si.
Enquanto houver reivindicação sobre a pessoa, isso quer dizer, simplesmente, que vocês estão instalados na pessoa.
Se não houver pessoa, a pessoa não pode ter o mínimo problema.
É impossível.
Dando um outro exemplo: é como se tu me dissesses: «eu não quero mais estar no rés-do-chão, mas eu quero estar no 4º andar do imóvel», mas tu persistes em permanecer no rés-do-chão, sem querer mover-te para o 4º.
A expressão que vocês poderiam empregar é: querer um e o outro.
Vocês não podem querer, ao mesmo tempo, o efêmero e Ser Absoluto.
Lembrem-se: o efêmero não pode conter o Absoluto.
O Absoluto contém o efêmero.
É de tal modo simples que o ego jamais o aceitará, que o Si, também, jamais o aceitará.
Porque eles vos querem fazer passar o efêmero por Eterno.
Assim, mesmo se isso é difícil de entender para a pessoa: tu não és essa pessoa.
Mas enquanto tu permaneceres na pessoa, tu permaneces no narcisismo, que é sofrimento ou, no melhor, alternância entre sofrimento e satisfação.
Ora, toda a satisfação apela à sua reprodução (em todos os sentidos do termo, reprodução): em ti, pelos medos que vão e voltam, mesmo pela necessidade de se reproduzir, para esperar se encontrar numa continuidade efêmera.
Toda a pessoa está inscrita nesta necessidade de reprodução.
Todo o saco de comida não pode existir senão por este princípio de reprodução.
É justamente disto que é preciso tomar consciência e se extrair.
E depois, se desembaraçar, também, da consciência que lhe pertenceu.
Porque quanto mais escavarem (esperando encontrar a Luz), mais vocês se afundam nas Trevas.
Eu poderia chamar isso de psicologia de saco.
E é a Verdade.
Procurem sem procurar.
Parem e vocês avançarão.
É preciso se desembaraçarem de tudo o que chega à consciência.
Então, eu imagino que a pessoa confinada vai querer se desembaraçar do que a faz sofrer.
Mas ela não chega a compreender como ela deve também se desembaraçar do que a faz feliz.
Isso não quer dizer sair de uma relação mas sim, aí também, mudar de ponto de vista.
Quando me dirijo assim a vocês, a pessoa pode compreender (mal) que é preciso se afastar de uma profissão, de um marido, de uma mulher, de uma relação.
Mas eu nunca disse isso.
É o que vocês entendem, ao nível da pessoa.
E vocês o entendem sempre assim, enquanto vocês estiverem instalados na pessoa.
Aceitem não ser ninguém e vocês verão.
Mas a partir do instante em que vocês empreendem uma ação para não serem ninguém, suprimindo isto ou aquilo, vocês não apreenderam nada.
Porque eu não me dirijo necessariamente à parte que entende as minhas palavras, num primeiro tempo. 
E é por isso que eu vos digo, de cada vez, para terem tempo para compreender.
Se tu não compreenderes nada, agora, tanto melhor, porque eu me dirijo ao que está para além da compreensão.
Eu não me dirijo à pessoa que escuta, mas àquela que entende.



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Mensagem de BIDI no site francês:
https://issuu.com/ultimasleituras/docs/19-bidi-3_juin_2012-1-article8b62
03 de junho de 2012
(Publicado em 04 de junho de 2012)

*** 

Tradução para o português: Cristina Marques e António Teixeira
***

Colaboração: Rosa Amelia Muruci


***


Transcrição e edição: Andréa Protzek e Zulma Peixinho




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